quarta-feira, 18 de março de 2009

NOTA PESSOAL

Desenho de Adriana Pereira - 3.º ano

Há momentos da nossa vida em que, não se sabe como, somos levados a um exercício de viagem ao passado, a um reviver do caminho percorrido.
Hoje, quando abri a porta da sala de aula, deparei-me com um coro entusiasta a cantar "Parabéns a você...". Os meus alunos, avisados sabe-se lá por quem (desconfio que...) começaram o dia a despertar emoções dentro de mim, que me conduziram ao tal exercício de avaliação dos encontros e desencontros da minha vida.
Pois é, o tronco da minha árvore já suporta o peso de 53 translações. Apesar de já ter visto muita coisa, assistido a muita mudança (muitas das quais para ficar tudo na mesma) lembro-me, como se fosse hoje, dos meus tempos de pardalito numa aldeia das faldas da Serra da Estrela, a descobrir o mundo saltando de pedra em pedra, a trepar às árvores, a mergulhar nas águas da ribeira com o fato com que vim ao mundo, das brincadeiras sem fim nas tardes cálidas de Verão; da minha vinda para o Fundão, onde concluí o ensino primário; da adolescência misturada entre livros (de toda a espécie, sem critério) e futeboladas sem noção das horas; do baptismo de professor na ilha da Madeira; da procura intelectual por Lisboa, onde deixei, prematuramente, os meus cabelos ondulados; o apaziguador regresso à Beira, onde me recompus com a vida e comigo próprio; o nascimento dos meus dois filhos, a luz inovadora do quarteto que é a minha família...
Transversal a tudo isto, a escola, sempre a escola. E, quase sem me dar conta, estou prestes a completar 30 anos de docência, espaço de tempo povoado por muitos rostos, muitos sorrisos, muita esperança. Que será feito do Eusébio, da Susana e do João Olim, que faziam parte do grupo dos meus primeiros alunos, e que calcorreavam os caminhos da Marinheira, um pouco mais acima do Estreito de Câmara de Lobos? E de todos os outros que se seguiram?
Sinto-me bem a olhar para trás, munido da convicção de que ser professor é uma coisa sagrada. A escola, para além das aprendizagens que proporciona, é um local de partilha por excelência, onde se trilham com convicção os caminhos da esperança.
Mas muita coisa mudou. O presente é de alguma convulsão, com a classe a ser confrontada com novos e grandes desafios. Por vezes a crispação acentua-se, provocada por insensibilidades a questões muito delicadas. Mas, apesar de tudo, continuo a sentir a adrenalina a subir quando entro na minha sala de aula. E, isso, ninguém me pode tirar.

Agostinho Craveiro

5 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns senhor professor!
Continue assim. As crianças agradecem.
I.L.

Luísa Braga disse...

Não poseria como assidua leitora e colaboladora deste blog, dixar passar a data em branco.
Devido aos problemas que o sr.sabe, alguns lapsos de memória têm sido mais frequentes.
Desejo do fundo do coração que por muitos anos outros meninos como os nossos o encham de alegrias, e que não duvide que nunca, se irão esquecer de si, assim como eu nunca esqueci os professores que me marcaram mais..
Saõ eternos na nossa memória e fizeram de nós parte do que somos por toda a vida.
PARABÉNS!!
E porque não??Um abraço e 3 beijinhos do "quarteto" aqui de casa.
Luísa Braga

Anónimo disse...

Parabéns Sr Professor. Ontem quando fui buscar a minha filhota à escola ela pergunta-me " sabes quem faz anos hoje, mamy? Não.... O Sr Professor...! até lhe cantámos os parabéns...e era genuína a alegria com que o disse. desejo lhe sinceramente que DEUS o ilumine e continue sempre com a sua força e garra, por muitos mais anos... as nossas crianças e nós pais, agradecemos. Nunca duvide que será sempre alguêm muito importante na vida delas. beijinhos e abraços da familia António oliveira

Anónimo disse...

Já agora, e porque é Dia do pai, um Feliz dia, porque afinal tambem passa muito do seu tempo com os nossos filhos....

Ibel disse...

Ao professor do signo dos peixes(que signo de água e mar!!!),os parabéns pela sensibilidade, pela forma como escreve, pela forma como ama a natureza e os seres humanos.E obrigada pelo incentivo que dá a quem vem dum ventre sagrado que nasceu na Serra da Estrela.