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Os dias têm sido de intenso trabalho, mas não há melhor forma de cimentar aprendizagens. E nós, como qualquer profissional que se preze, primamos nessa intenção: incentivamos, exigimos, insistimos...
A hora do recreio, para eles, é de libertação, pois existe por ali muita energia contida a necessitar de se libertar. Só que a chuva, persistente, não tem ajudado, e o tempo de intervalo acaba por se desenrolar dentro da sala de aula, onde os constrangimentos, para quem se pretende soltar, são vários. E os conflitos tornam-se mais frequentes, às vezes quase sem se saber porquê, preocupando quem tem o dever de educar.
Hoje à tarde, quando lhes distribuí uma folha branca, a maior parte pensou, com agrado, que iriam desenhar. E estranharam, é claro, quando lhes disse para amarrotarem a folha. Perante o olhar interrogativo e expetante, repeti o convite. E mais: podiam amarrotá-la, mas com uma condição, não a podiam rasgar.
Olhavam uns para os outros, ainda incrédulos com tal convite, mas o som do amarrotar das folhas começou a fazer-se ouvir. Timidamente, no início, mas lá os convenci que aquilo era mesmo a sério. E incentivei-os ainda mais. Se quisessem, até podiam pisar a folha, mas sempre com a condição de não a rasgar.
Alguns começaram-se a soltar, amarrotando com prazer. E riam. Às tantas, soltas as amarras, o som do amarrotar dominou a sala, mas nem todos se atreveram a pisar a folha, apenas três ou quatro o fizeram.
Passada a euforia, disse-lhes para tentarem colocar a folha como lhes tinha sido entregue. Sem a rasgarem, reforcei.
Desdobraram, alisaram, mas as folhas nunca ficavam direitas. Voltaram a tentar. E, por mais que se esforçassem, a folha ficava sempre engelhada. Foi então que lhes disse que a folha era como uma pessoa, podia muito bem ser um deles. Silêncio na sala. E disse-lhes mais. Quando magoamos alguém, quando ofendemos, quando gozamos, essa pessoa fica amachucada, cheia de marcas, tal como a folha que tinham à sua frente. Podíamos tentar remediar a situação, mas as coisas nunca mais seriam as mesmas, as marcas ficavam para sempre.
O silêncio era agora maior. Um ou outro ainda titubeou, mas eles começavam a interiorizar. E perceberam.
O silêncio era agora maior. Um ou outro ainda titubeou, mas eles começavam a interiorizar. E perceberam.
No final, perante a questão do que fazer com as folhas, disse-lhes que tínhamos que as aproveitar, pois a vida tem que continuar. E, mais que nunca, o seu semblante foi de aprovação.
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8 comentários:
Grande lição, prof Agostinho!
Fez-nos pensar, e muito!!!
Turma de 3º Ano
Agradecemos do fundo do coração a mensagem que nos trouxe à sala. Nunca nos esqueceremos do quanto às vezes podemos magoar os outros!
OBRIGADA, senhor professor Agostinho!
É triste como esta folha amarrotada como uma pessoa
Gostei desta atividade.
O vosso texto lembrou me uma coisa e coitada da folha
Aprendi muito com isto professor Agostinho.
Vou tentar lembrar-me desta lição ao longo da vida. Obrigada
Ensinou-nos uma bela lição, professor Agostinho.
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