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Chamam-me O Menino do Seu Pescoço, porque o meu pescoço é enorme! Já a minha mãe me dizia «Tu cresceste tanto!». Na verdade, já não cabia em casa e ela abandonou-me, a mim e ao meu irmão. A minha mãe partiu-me o coração!
Fui andando por aí com o meu pescoço gigante e o meu irmão...
A certa altura encontrei uma casa bela e alta. Enquanto olhava para ela, senti umas cócegas no pescoço e o meu irmão mais novo gritou:
- Que gatinho tão fofinho!
Olhei para baixo e estava um gato a trepar ao meu pescoço. Que tortura! Mas achei o gatinho tão fofo que resolvi levá-lo para a minha nova casa.
Entrámos em casa e estava lá uma velhinha que tinha uma verruga no nariz. Parecia uma bruxa! E ela disse-nos:
- Vendo esta casa, por acaso não a querem comprar?
Eu e o meu irmão aceitámos a proposta, pois a casa era bastante confortável e eu até cabia lá dentro. Fufu, o gato, foi logo para a maior cama como se dissesse «Eu fico com esta cama!» e eu fiz-lhe a vontade. Agora, numa casa tão grande, durmo numa cama para gatos! Podia ser pior!
Certo dia, fomos dar uma volta pelo bairro e todos começavam a rir de nós. De repente, eu gritei:
- O que é aquilo? É um barco! Terra à vista, terra à vista!
Gritei tão alto que o presidente ouviu e disse:
- São os inimigos! Preparem as armas!
Os tripulantes do barco aperceberam-se que iam ser atacados e foram-se embora.
O presidente chegou ao pé de mim e disse:
- Meu caro filho, agradeço-te muito, pois acabaste de salvar a minha terra. Posso ajudar-te?
Eu disse-lhe que uma cama do meu tamanho me dava jeito.
- E que tal algum dinheiro? - perguntou ele.
Eu abri a carteira e vi uma foto do meu pai que tinha desaparecido há muitos anos. A foto era igualzinha à cara do presidente!
- Pai?!?
- Queres um pai? - perguntou ele.
- Não! Tu és o meu pai!
Ele olhou para a foto, para mim e para o meu irmão e levou-nos para a sua rica casa!
O meu irmão sentiu pena por não ter uma mãe, mas algum tempo depois a minha mãe foi lá e pediu desculpa por nos ter abandonado. A nossa família estava completa, e até tínhamos um gato.
Agora que tudo acabou bem, vou contar-vos o porquê do meu pescoço ser assim. Quando tinha cinco anos fiquei preso entre duas árvores e a minha mãe puxou, puxou, puxou tanto que já se está mesmo a ver.
Ah, quase me esquecia, ao meu irmão chamam-lhe O Menino dos Seus Pés, mas isso é outra história!
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Texto e ilustração: Madalena Filipe - 3.º ano
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