O Francisco Alexandre frequentou, durante o presente ano, o 4.º ano de escolaridade. É uma criança com um mundo interior bastante rico, mas evidenciou sempre, desde o início da sua vida escolar, uma grande dificuldade em comunicar com os outros. À medida que o tempo passava foi conseguindo criar alguns laços, mas o essencial continuava resguardado na sua concha. Até que...
Há tempos, o Francisco Alexandre disse à sua professora que andava a ensaiar uma peça com um psicólogo. O desafio surgiu, célere:
- Não achas que seria boa ideia representá-la para os teus colegas?
O Francisco nada disse. Mas deve ter ficado a matutar na ideia, pois há poucos dias, ao chegar à escola, comunicou à professora que estava disposto a representar a peça. Já havia pouco tempo disponível, e marcou-se o evento para o último dia.
Sexta-feira, depois do almoço, o Francisco chegou à escola acompanhado pelo pai e pelo Paulo, o seu psicólogo. Depois de lhe ser disponibilizado o espaço pretendido, começou a montar, pacientemente - o Francisco Alexandre fracturou um braço há pouco tempo - o cenário da sua peça. Os colegas foram convidados a entrar, sentaram-se, e aguardaram com alguma expectativa o que sairia dali.
O Francisco Alexandre estava um pouco nervoso. Ser o centro das atenções estava a mexer muito com ele, mas notava-se-lhe também uma grande determinação. Ele estava disposto a vencer a sua luta.
O Paulo fez a introdução, explicando aos alunos como surgiu a ideia daquela peça, que a ideia tinha sido do Francisco Alexandre e tinha sido também ele a construir, praticamente sozinho, o cenário.
Então o nosso pequeno grande herói começou a sua luta. Foi contando, socorrendo-se de vários bonecos, a história de dois amigos. Os colegas ouviam-no, num misto de admiração e espanto. De vez em quando hesitava, mas o feedback era positivo. E o Francisco continuava. A sua determinação era grande e, sempre lutando consigo próprio, avançou na história, avançou, avançou, até que pronunciou a última frase:
- E os dois amigos viveram felizes para sempre!
O Francisco estava na expectativa. Será que os colegas tinham gostado? Os aplausos que ouviu logo de seguida vieram desanuviar-lhe o espírito, tranquilizando-o.
Mas o Paulo queria mais. Queria que o Francisco fosse confrontado com o seu desempenho, que enfrentasse as possíveis questões dos colegas. E, como se de um acto concertado se tratasse, quase todos queriam fazer perguntas. Via-se que estavam curiosíssimos por saber mais pormenores da empreitada do Francisco.
O Paulo pôs alguma ordem na assembleia, e as perguntas começaram a surgir. O Francisco ia iniciar a sua derradeira batalha, enfrentar uma sala com quarenta pessoas com os olhares todos concentrados em si.
Numa ou outra pergunta o Francisco ainda hesitou mas, a pouco e pouco, a sua segurança aumentava. A sua convicção nas respostas era cada vez maior, ciente que tinha conquistado os colegas. Contou-lhes dos materiais que tinha usado, das técnicas aplicadas... Estes, rendidos, olhavam-no num misto de admiração e ternura. E ouviram-no dizer, no final, que quando fosse grande gostaria de ser escultor.
A vitória tinha sido arrasadora!
Francisco Alexandre, mais um pequeno grande herói para a minha galeria!