terça-feira, 1 de junho de 2010

E AS CRIANÇAS, SENHOR?!

..
A ideia até era boa. Recorrendo à prata da casa - professores das AEC's, funcionários... - e a algumas valências da GNR - Escola Segura, cavalos, cães... - a Câmara Municipal planificou um conjunto de actividades para festejar mais um Dia Mundial da Criança, de que iriam beneficiar as crianças das diversas escolas do concelho, entre as quais a nossa.
E as crianças lá estiveram a fazer o papel que lhes destinaram no guião. À torreira do sol, deram-lhes balões, em tons de azul e amarelo, para participaram na realização duma moldura humana. O calor apertava, mas eles lá se esforçavam por cumprir as orientações. Depois de saciado o apetite dos fotógrafos, que até se socorreram duma grua dos bombeiros para melhor cumprirem a função, os pequenotes receberam então ordem de marcha para a Praça do Município. E lá seguiram eles atrás de dois agentes da GNR a cavalo, que a população aprecia sempre estes aparatos. E os miúdos sempre a lutar contra o sol!
Na Praça do Município estava programada a entoação do Hino Nacional, que se pensava ser um momento de truz com a voz das centenas de crianças. As varandas da Câmara encheram-se, e alguns vereadores desceram até à praça para o fruir do evento. Mas ninguém reparava no sofrimento dos pequenos, que já desanimavam com o calor sufocante.
Cantado o Hino, de novo em marcha para o Multiusos. E, mais uma vez, à torreira do sol!
Os miúdos, desta vez, iriam ser assistentes, no caso duma demonstração de cães treinados da GNR. Mas, para espanto geral, mandaram sentar as crianças na escadaria do Pavilhão, sujeitos às inclemências do astro. Só se fosse para bronzearem! Seria?!
Chegados a este ponto achámos que era de mais. Os alunos estavam a nosso cargo, e o nosso dever era preocuparmo-nos com o seu bem estar. E deixá-los à torreira do sol era negligenciar essa tarefa. Dito isto, e após agradecermos à nossa guia, que foi irrepreensível na preocupação demonstrada, pusemo-nos a caminho da escola, deixando para trás aquilo que se estava a tornar num pesadelo para todos. Mas sem nos coibirmos de demonstrar o nosso desagrado. E lá fomos, mais uma vez com o "apoio" do sol, a caminho da escola.
Soubemos, mais tarde, que a actividade dos cães acabou por ser transferida para dentro do Multiusos. Ainda bem. Mas não são remendos de ocasião que escondem falhas de fundo.
Quando os nossos alunos chegaram à escola estavam uma lástima. Uns deitavam-se no pátio, extenuados, outros corriam para as torneiras, outros quase não articulavam palavra. Só visto!
Pois é, muitas fotografias bonitas se devem ter tirado durante a manhã. Os ingredientes para isso estavam lá todos: havia movimento, cor, crianças, fardas, cavalos, cães... Como dissemos no início, a ideia até era boa. E não duvidamos das boas intenções da entidade programadora. Que apenas se esqueceu dum pequeno pormaior: o dia era para as crianças fruírem, não era para serem usadas em espectáculos de divulgação duvidosa.
Vivemos tempos conturbados.
.
Agostinho Craveiro

.
.

17 comentários:

Fátima Mendes disse...

Deixo minhas as suas palavras concordando em pleno com tudo o que disse ... é que o dia era mesmo destinado ás nossas crianças como referenciou,é pena esquecerem-se do esforço que estes pequenotes enfrentaram, pois nem água nem bronzeador lhes colocaram á disposição.É com agrado que digo que a tarde foi bem mais proveitosa,pois foi bom observar estes olhinhos ávidos de curiosidade a confecionarem um belo bolo de iogurte e seguindo-se um belo lanche com sumo e ao fresquinho.Valeu amiguinhos

Anónimo disse...

« E as crianças.Senhor?!»
Com as turmas ( 1º e 3º anos) que funcionam na ADCAJ, aconteceu o mesmo.Como soube bem chegar ao salão, deitar no chão e ouvir baixinho uma música calma para relaxar enquanto não eram horas de almoço!!!
Quero acrescentar que, no regresso,uma aluna do 1º ano teve que ser transportada «às cavalitas» pela professora e auxiliar pois que os seus joelhos estavam magoados das brincadeiras de dias anteriores, o suficiente para não conseguir fazer o caminho de regresso pelo seu pé.
É que a Aldeia de Joanes é logo ali!

Graça Abrantes

Anónimo disse...

Ainda bem que há quem zele pelos nossos filhos. Proferssores e Auxiliares, fazem tudo por eles. Será possível que a CMF não tenha pensado no bem-estar das nossas crianças?! Há que protestar e proibir o uso de imagens captadas hoje de manhã em que entrem as crianças extenuadas a fazer propaganda ao regime instalado na praça do municipio.

Anabela Santos disse...

Ainda bem que deram a volta às coisas e acabaram por aproveitar bem o dia.
Connosco passou-se o inverso, foi a chuva que marcou o nosso dia. Também tivemos que improvisar, mas com a preciosa ajuda das autoridades locais.
Bom trabalho

Prof. Anabela
BLOGando na Escola

AC disse...

Anónimo,
Não duvidamos da competência das pessoas. Possivelmente terão sido mal aconselhadas.
O que se espera é que se tenha aprendido com o que se passou e que, no futuro, estas situações não se repitam.

Anónimo disse...

Olá a todos.
Obrigada pelo bem senso em fazerem regressar as crianças mais cedo. O João disse-me, de facto, que a tarde foi bem boa, a fazer bolinho!!
Teresa Godinho

Ivone Gama disse...

Efectivamente, e cada vez mais, vivemos numa sociedade em que o que mais interessa é o aparato, o bem parecer... É a sociedade do bolinho! Conhecem? Passo a explicar esta minha teoria: imaginem um bolo com uma cobertura apetitosa e com uma decoração irrepreensível; um bolo daqueles que dá pena trincar... Mas depois de trincado... cospe-se!Pois é, não há nada como um bolinho caseiro, feito com aqueles ovos bem amarelos e sem coberturas cremosas, que só fazem mal à saúde. Falando em saúde, a educação também tem andado bastante virada para as coberturas...

Anónimo disse...

Fico contente por saber que posso confiar no bom senso dos professores para quem o bem estar dos alunos é bem mais importante do que qualquer demonstração fotográfica "publicitária".

AC disse...

Pela parte que lhes toca, os professores apenas fizeram aquilo que acharam ser melhor para as crianças. De qualquer modo, obrigado pelo voto de confiança.

fernandassalgueiro disse...

Duas ideias apenas e muitos problemas, como o descrito, ficariam resolvidos:
" Abaixo o FAZ DE CONTA! Trabalhe-se com BOM SENSO e RESPEITO!"
Ou será pedir demais? penso que não!

Luis Augusto disse...

QUE VERGONHA SENHOR PROFESSOR?!
Está tudo mal!A cor, o calor, os cavalos.....enfim, há sempre pessoas indispostas para o que quer que seja. O país e o mundo tudo estão deprimidos.
Sou um pai preocupado, que tirou o dia para poder assistir de perto á realização destas actividades e o meu filho estava muito entusiasmado por participar em várias coisas e manifestava o seu contentamendo dizendo que recebera uma t´shirt, uma bola da selecção para além das brincadeiras nos insufláveis e as pinturas. Por isso sr. professor acho lamentável pois ninguém o deve ter obrigado a participar nestas actividades.

AC disse...

Já estava a estranhar que não viesse aqui alguém a tentar negar o inegável. Não deve ser encarregado de educação desta escola, caso contrário não se prestava a fazer o "frete" que está a fazer. É que os miúdos sofreram a valer durante a manhã, e só um coração insensível é que se atreve a negar essa evidência. Para além de passarem a manhã ao sol nos actos oficiais, os nossos alunos tiveram que se deslocar a pé para o local do evento, pois não foram contemplados com qualquer transporte.
Não acha que é dever de um professor tentar acautelar a segurança dos seus alunos? O nosso relato apenas pretende acautelar futuras situações, nada mais. Todos devemos ter a humildade de aprender com os erros, pois ninguém é dono da verdade. Mas tentar branquear uma situação que foi deveras penalizadora para tantas crianças, isso não lembrava a ninguém.
E olhe que eu não contei tudo. Se fizesse o relato exaustivo do regresso à escola, se calhar ficava arrepiado.
Fique, no entanto, com uma certeza: é o bem-estar das crianças que nos move, nada mais. E que nos deveria mover a todos. Não acha que estou correcto?

JB disse...

Corroboro as palavras do professor Agostinho e não lhes tiro qualquer vírgula. Mas acrescento uma: tive crianças que, de forma desanimada, choravam, enquanto se preparava o "espectáculo" da moldura humana. O regresso à escola foi sufocante! E que pena não as ver exaustas e a chorar ... de alegria!!!

A.M. disse...

Penso que a situação provocada deve fazer pensar, mais que uma vez, os responsáveis pela organização; como refere o colega Agostinho, as ideias são boas, são meritórias, até ao ponto em que falta um pouco de discernimento para procurar encontrar as estratégias correctas; estratégias que não é difícil encontrar junto de quem melhor conhece o "casting". Lamento a palavra mas, perante certas situações que segui de perto, até cerca do meio dia e meia, parece-me a que melhor qualifica as crianças intervenientes no evento.
Mas não deveremos extremar posições, apenas retirar ilações, aprender com os erros e com aquilo que consideramos as nossas "certezas".

Anónimo disse...

não era para comentar... mas não consigo... Será que o Sr Luis Augusto, pode dizer em que escola anda o seu educando e como fez para o levar aos sitios que visitaram? nesta ALTURA em que cada vez mais nos dizem que devemos ter cuidado com o sol, com o calor, nem uma garrafa de agua lhes foi oferecida??? concerteza ao senhor, como tirou o dia para o passar com o seu filho, o que louvo, é porque tem um emprego que lho permite,e ainda bem, proporcionou ao seu filho todos os cuidados necessarios para isso... sabe eu tenho uma frase que costumo dizer mts vezes " para criticarmos temos que fazer melhor"... o senhor conseguiria manter tdas aquelas crianças abrigadas do sol, sem agua, sem transporte...enfim, desculpe o desabafo mas quando não sabemos bem daquilo que falamos o silencio é a melhor arma que devemos utilizar.

ana paula disse...

o comentario anterior foi feito pela mãe de uma menina do 4ª ano dessa escola e que se chama Ana Paula.

AC disse...

Este blogue é lido por adultos e crianças, e tem preocupações essencialmente pedagógicas. Tendo surgido nesta caixa 2 comentários
que ultrapassam o âmbito desta escola - com questões que não têm nada a ver com a filosofia deste blogue - resolvemos apagá-los. Espero que os envolvidos entendam e respeitem a nossa decisão. Se, de qualquer forma, quiserem resgatar os vossos comentários, é só dizerem, pois vamos guardá-los por um tempo.