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O tema já não é novo. Poderá mesmo afirmar-se que, para um observador mais atento, está a acontecer o inevitável. O sistema, por múltiplas razões, começa, cada vez mais, a apresentar debilidades, traduzidas, muitas vezes, na forma, mas essencialmente no conteúdo.
Uma escola, para que funcione de forma eficaz, depende da conjugação de vários fatores, qual união, bem consolidada, de diversos elos. Se algum deles falhar, e por mais que os outros se empenhem, as dificuldades avolumam-se, a ponto de, na persistência do problema, o edifício das boas intenções, construído com o esforço de muitos, correr o risco de se desmoronar. Nestas coisas não há milagres, precisamos mesmo uns dos outros.
Esta escola, como é bem sabido, tem passado, nos últimos tempos, por algumas dificuldades estruturais. As assistentes operacionais, importante e fundamental elo de apoio aos professores no desempenho das suas funções, têm estado no centro das atenções, mas não pelas melhores razões. Já aqui referimos, há dias, o sucedido com a Cristina e a Teresa. Remediada, aparentemente, a questão, com a entrada em cena do Manuel - para substituir, temporariamente, a Teresa - e da Raquel - para substituir a Cristina - eis que, de repente, esta adoece. E, talvez como resultado do mau humor dos deuses, seres de cíclicas crises, a escola vê-se confrontada com uma situação desconfortável, quase kafkiana, em que, vá lá saber-se o porquê, não há ninguém disponível para substituir quem quer que seja.
Para melhor entendimento, tenhamos em conta o seguinte:
- A escola, neste momento, beneficia, oficialmente, dos serviços de duas assistentes operacionais: uma da responsabilidade do Ministério da Educação, a Teresa, e outra da Junta de Freguesia, a Raquel;
- De há uns anos a esta parte, por imperativos da crise vivida no país, não são permitidos novos contratos para assistentes operacionais;
- O recurso à contratação de tarefeiras, importante recurso para auxiliar na limpeza das escolas, e por maiores que sejam as solicitações do Agrupamento, não mereceu, até ao momento, qualquer resposta positiva dos serviços ministeriais;
- As autarquias, que têm, habitualmente, vindo a tapar alguns buracos nas lacunas do sistema, estão a ficar estranguladas na sua capacidade de resposta...
Que fazer, então, agora que, tanto a Teresa como a Raquel, estão doentes?
Ressalve-se que, na análise desta questão, não está em causa a doença das pessoas, pois a moléstia pode bater à porta de qualquer um. Não, o que queremos vincar é bem diferente. Prende-se, essencialmente, com a fragilidade do sistema em que vivemos, em que serviços básicos, a que sempre nos habituámos, poderão, ao menor sopro de qualquer brisa, ser colocados em causa.
Os professores, até ao momento, têm tentado colmatar, dentro do possível, as necessidades dos dois edifícios da escola, assumindo responsabilidades que ultrapassam, largamente, a sua capacidade de resposta. Têm-no feito - pensando, essencialmente, nas crianças - com abnegação, sentido de responsabilidade, não sendo exagerado invocar para aqui o espírito de sacrifício, mas esta situação não se poderá manter. Na semana passada foram os professores que lecionam na escola Plano dos Centenários que estiveram um dia e meio por conta própria, sem qualquer apoio, esta semana "calhou a sorte" aos professores em serviço no edifício da ADCRAJ estarem, hoje e amanhã, sem qualquer apoio de assistentes operacionais. Perante o relatado, uma questão se coloca: e se a Raquel, na segunda-feira, não se apresentar ao serviço? Que acontecerá? É que, para remediar a situação, não nos parece que seja legítimo recorrer, mais uma vez, ao espírito de sacrifício dos professores. Quem de direito terá que ter outra capacidade de resposta aos problemas, pois um país civilizado, como é, supostamente, o nosso, não pode apresentar fragilidades como estas num setor tão fundamental como é, declaradamente, a educação.
Esperamos, sinceramente, que os próximos dias tragam boas novas na bagagem, com o retomar de funções, na próxima segunda-feira, da Teresa e da Raquel. Esperamos, ainda, que as pessoas assumam, de uma vez por todas, o seu sentido de cidadania. É que, cada vez mais, não basta invocar direitos. Por melhores que sejam os atores no terreno, por vezes não bastam as boas intenções. É necessário, para que as coisas aconteçam, ser-se mais ativo, mais empenhado, mais assertivo na busca de soluções.
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