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Brincava como os outros, mas não da mesma maneira.
No calor da brincadeira o canteiro passava quase despercebido para a maioria, mas ela deixava-se prender pelas cores que iam desabrochando, aqui e ali, mesmo junto à parede. Gostava de flores, está visto, e de vez em quando não se coibia de, quase a medo, colher uma ou outra.
"É para si", dizia. Ela sabia que colher flores no canteiro era um gesto desaprovado, mas os seus olhos brilhavam de tal forma que era doloroso censurá-la. Agradecia, com um sorriso, mas acabava por lhe dizer que as flores gostavam de ser partilhadas por todos. Assentia, sem dizer palavra, e lá ia ela.
Uns tempos depois a cena repetia-se. Desta vez era uma flor silvestre, amarelinha, tinha-a apanhado no percurso do ATL para a escola. Era diferente a flor, mas não o sorriso.
Gostava de flores, sem dúvida, e nesses pequenos sinais ia revelando a forma como se ia construindo. Há tantas formas de piscar o olho à vida...!
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4 comentários:
lindo
Há gestos que têm a mão do coração e a esses é difícil resistir...
Há outros que têm a mão do olhar atento, que permite "captar" a essência do brilho daqueles olhos...
A partilha, descrita desta forma tão genuína e singular, tem a mão da sensibilidade e sabedoria de poetas que cultivam jardins no coração dos outros...
E assim vão crescendo os mais belos canteiros em flor...
Obrigada por este momento!
;)
Gostei muito do
texto é giro
Concordo contigo beatriz nisa
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