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........Ó meu Menino Jesus
........Ó meu menino tão belo
........Só Vós pudestes nascer
........Na noite do caramelo.
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........Da vara nasceu a vara
........Da vara nasceu a flor
........Da flor nasceu Maria
........De Maria o Redentor.
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A década de sessenta iniciara-se há pouco.
Na aldeia, inclinada à
inclemência dos gelos da Estrela, não se poupava na lenha. Em casa do
Luís Pereira o lume crepitava desde muito cedo, inundando a cozinha com
um calor só visto nas grandes azáfamas.
Da horta, logo de manhã,
tinham chegado as mais lindas e apetecíveis couves, que iriam fazer
companhia, na Consoada, ao bacalhau já demolhado, comprado na mercearia
da menina Amélia. Mas havia ainda muito que fazer: só de doces ainda faltavam as filhós, que seriam fritas a meio da tarde, as rabanadas, o arroz doce...
O João, seis anitos de gente, cirandava pela casa
tentando não perder pitada de todo aquele movimento, que só se via
naquela altura do ano. Enquanto a mãe e as irmãs davam voltas à massa
para as filhós, o pequeno não arredava pé, como se toda aquela lida
desse asas ao encantamento com que vivia a época.
- Oh João, vai brincar lá para fora!
É
o vais! O João empolgava-se a respirar todos aqueles preparativos para
"a noite mais longa do ano", como dizia o pai, e só quando era preciso
reforçar o lume é que ele condescendia em ir ao quintal para trazer
mais uns cavacos. Era preciso aquecer bem a casa para receber o Menino
Jesus!
Durante a fritura das filhós, toda a casa se via envolvida em
cantos. Enquanto lhes davam forma e as colocavam no azeite quente, as
mulheres cantavam em louvor do Menino:
.........Ó meu Menino Jesus
........Ó meu menino tão belo
........Só Vós pudestes nascer
........Na noite do caramelo.
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À
Consoada, após a oração dirigida pelo chefe da casa, as atenções
centraram-se no bacalhau e nas couves que, a pouco e pouco, iam
desaparecendo de duas grandes travessas. Aos dois filhos mais velhos, já
homens feitos, foi-lhes permitido acompanhar o pai e o avô num copo de
vinho, que a ocasião era de festa. A noite ia decorrendo, animada,
como seria de esperar numa mesa com dez pessoas irmanadas pelos mesmos
sentimentos. As filhós e as rabanadas iam temperando a conversa, que
alternava aqui e ali com as canções que as mulheres tentavam impor e a
que todos aderiam...
.........Da vara nasceu a vara
........Da vara nasceu a flor
........Da flor nasceu Maria
........De Maria o Redentor.
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Ainda
a mesa da Consoada não estava apanhada e já o João, afoito, corria
para a cozinha, na ânsia de colocar os sapatos para a prenda do Menino
Jesus. Ainda esboçou um gesto para levar também as botas feitas no Zé
Brás, o sapateiro da terra, para ver se o leque das prendas aumentava,
mas os olhos da mãe disseram-lhe que não valia a pena. Pouco depois
recebeu ordem para ir para a cama, enquanto os mais velhos, com outro
estatuto, saíam para a missa do Galo, a que se seguiria uma ida ao
madeiro, que combatia o ar gelado da noite no adro da igreja.
No dia
de Natal, bem cedinho, ainda antes do galo cantar, o João foi o
primeiro a levantar-se. Com o coração aos pulos, correu para a cozinha
e galgou a distância em dois tempos. Pegou no embrulho que estava
junto dos seus sapatos, atado com um grosseiro cordel, e desembrulhou-o
logo ali. Então, deslumbrado, pegou na camisola e nas calças novas e
levou-as, instintivamente, ao seu corpito de menino. Que bem que lhe
ficariam na missa de Natal!
A manhã custou a passar, pois nunca mais
chegava a hora de vestir a roupa nova. Ansiava pelo momento de subir a
igreja, de peito inchado, exibindo a roupa para os amigos. Quando,
finalmente, chegou a autorização da mãe, ele e os irmãos partiram para a
igreja, onde os aguardava o encantamento das enormes figuras do
presépio que o padre Nicolau tinha mandado vir do Porto.
O João, enquanto faziam o caminho, continha-se para não correr. Queria chegar à
igreja o mais rapidamente possível para ver o presépio, mas com a roupa
direitinha. Contudo, os cânticos que se ouviam ao longe ainda
acirravam mais a vontade de chegar depressa. Os irmãos, que lhe notavam
a ansiedade, sorriam uns para os outros. Apesar das partidas que ele
lhes pregava, gostavam muito da vivacidade do irmão mais novo, e sabiam
o que ele estava a sofrer para dominar a sua vontade. Às tantas, já
com a igreja à vista, o pequeno não se conteve mais e começou a correr.
Os irmãos ainda tentaram segurá-lo, mas quem o conseguiu foi uma pedra
solta no meio do caminho, que o fez estatelar no meio do chão.
Teve
que voltar para trás e, quando chegou a casa, ainda não parara de
soluçar, tal a decepção que sentia ao ver a sua roupa nova toda
enlameada.
Com muito jeitinho e uma paciência que só as mães têm, a
Maria José lá o convenceu a vestir outra roupa. E o João, que sonhara
com uma entrada triunfal na igreja, subiu a coxia de cabeça baixa, só
estacando em frente do presépio. Então, à vista daquelas maravilhosas
figuras, o miúdo começou a esquecer-se da roupa que vestia. Deitou os
olhos para o Menino e, qual milagre de Natal, teve a certeza que Ele
também olhava para si. E sorria-lhe.
Durante o almoço toda a gente
estranhou o silêncio do João. Não que ele estivesse triste, longe
disso, mas mostrava-se tão ausente do que tinha no prato que parecia
longe dali, absorto em mil pensamentos. O que passava na sua cabeça
devia ser coisa boa, pois de vez em quando esboçava um sorriso. E só
mais tarde, quando lhe puseram uma taça de arroz doce à frente e o
viram desenhar um menino com a canela, é que perceberam o encantamento
que ia na alma do pequeno.
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AC
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6 comentários:
Todo o conto é ternura que nos aconchega.
Obrigado, professor.
Que belo conto que nos faz sorrir e lembrar os valores do Natal. Foi um bom momento sim senhor. Obrigada.
Teresa Godinho
É um bonito conto!!
QUE GIRO CONTO!!!
gostei muito do conto ate me deu vontade de chorar
que giro conto
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