terça-feira, 21 de março de 2017

NA RUA DA MINHA TIA - QUADRAS À SOLTA

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Há muito que fazer na escola - a hora é de fichas de avaliação, de últimos retoques nos diversos projetos - mas os compromissos assumidos não são esquecidos. Estamos a falar do evento Poesia na Rua, pois é claro. Os dias vão-se passando e, sub-repticiamente, uma certa inquietação se começa a apoderar de nós. É que parte do material que encomendámos para a encenação - esferovite - teima em não chegar. Mas temos que acreditar que tudo irá dar certo, apesar de certas coisas não dependerem totalmente de nós.
A poesia está pronta, já começou a ser trabalhada, mas ainda faltam os apuros decisivos. De qualquer forma, e para que conste, aqui fica o que iremos encenar.
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Na rua da minha tia
Há constante descoberta
Espreitam estrelas p’la janela
Mesmo quando o sol aperta.
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Na rua da minha tia
Há um burro a ladrar
Um sapato a dizer rimas
Um caracol a sprintar.
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Na rua da minha tia
Há um leão voador
Rabisca planos de voo
Debaixo dum cobertor.
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Na rua da minha tia
Os cavalos sentam-se à mesa
Pedem um fardo de palha
Com toda a delicadeza.
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Na rua da minha tia
Há baleias a passar
Engomam as conversas todas
Sem nunca as arranhar.
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Na rua da minha tia
Há formigas d’encantar
São todas namoradeiras
Todas gostam de dançar.
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Na rua da minha tia
Há um barco de velas no ar
A desenhar mil aventuras
Com as aves sempre a remar.
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Na rua da minha tia
Os polícias andam descalços
Os sonhos são verdadeiros
Os ladrões são todos falsos.
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Na rua da minha tia
A chuva não cai no chão
Faz piruetas nos telhados
Em forma de coração.
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Na rua da minha tia
As borboletas usam redes
Para apanhar os poemas
Que respiram nas paredes.
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Na rua da minha tia
Há um homem muito elegante
Conta memórias a toda a gente
Que herdou dum elefante.
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Na rua da minha tia
Há uma quadra em cada flor
No aroma de cada uma
Se sente a palavra amor.
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Na rua da minha tia
Há bailes de adivinhas
As respostas chegam p’lo ar
Trazidas por joaninhas.
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Na rua da minha tia
Todos passam da cepa torta
As abelhas, quando chegam
Deixam mel em cada porta.
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Na rua da minha tia
Os gatos não têm garras
Dão passinhos de balê
Enquanto soltam amarras.
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Na rua da minha tia
As janelas abrem p‘ró mundo
Quanto mais a gente a olha
Mais a rua não tem fundo.
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Agostinho Craveiro
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