sábado, 17 de março de 2012

AMOR COM REGRAS

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Aldo Naouri é um pediatra de renome. Há tempos deu uma entrevista à revista Gingko, onde explanou as suas ideias acerca da nossa função de pais. Para aguçar o apetite, deixamos aqui um extracto. Para ler e meditar.
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O que mudou entre os pais e os filhos nos últimos 40 anos?
As crianças não mudam.
Mas a educação mudou…
Sim, a educação mudou e está a surtir resultados diferentes. E os pais também mudaram. Porque a sociedade mudou, transformando-se numa sociedade de abundância que segue a lógica de consumo, onde é importante consumir e incentivar toda a gente a consumir, porque cada um de nós tem direito a tudo. E a partir do momento que temos direito a tudo, para que havemos de nos esforçar? Dissemos aos pais que as crianças precisavam de fazer coisas que lhes dessem prazer para se sentirem amados. Mudámos a conformação que existia antes, quando os filhos deviam esforçar-se por agradar aos pais. Hoje os pais dizem que os amam e oferecem escolhas múltiplas, condenando o filho a uma posição de juízo muito angustiante porque ainda tem a personalidade em bruto e necessita de orientação para saber em que direcção caminhar e como lutar contra os obstáculos que encontra.

Essa abundância de que fala retirou o sentido da vida às nossas crianças?
Sim, podemos dizer isso. Mas temos de dizer que também retirou o sentido da vida aos pais.
A nossa sociedade é uma sociedade do prazer. É o prazer como recompensa?
Sim, só que é preciso compreender que é recompensa, que não é de graça. Os jovens pensam que é de graça, e por isso temos de lhes mostrar que só terão o prazer se se esforçarem.

Denunciou a existência de uma infantolatria. A sociedade esqueceu os pais?
Colocou os pais ao serviço dos filhos e a isso chamo infantolatria. Esqueceu o lugar dos pais, dessacralizou-o. Como as crianças são postas em primeiro lugar, os pais são desviados para lugar oculto. Não há lugar para o casal, e quando o casal enfraquece passa a haver dois apartamentos, duas frigideiras…

É necessário recuperar esse lugar?
Absolutamente. É fundamental dizer que a condição parental é magnífica.

Também é necessário reeducar os pais, antes de eles educarem os filhos?
Não. Os pais foram bem educados, mas para educarem os filhos têm de estar de acordo com a educação que receberam. A maioria compreende o ressentimento que tem dos seus pais. Mas precisam de perceber que, independentemente do que façam, estão condenados a ser amados pelos próprios filhos porque são eles que forjam a sua identidade. Mas também estão condenados à ira porque os filhos precisam da ira para se afirmar. Daí a necessidade de os seduzir. A partir do momento em que damos esta explicação aos pais, não precisamos de os educar. Eles sabem como proceder com os filhos. No geral, e em caso de necessidade, os pais entendem qualquer recomendação simples como substituir o slogan “a criança primeiro” por “o casal primeiro”. Se os casais fizerem isto não há necessidade de os educar.
No seu entender, o problema surge quando os casais tentam distanciar-se do papel que os seus próprios pais tiveram, quando querem ser diferentes deles.
Sim. Mas a partir do momento em que percebem que eles fizeram o que puderam e que não existem pais perfeitos, e não existem filhos perfeitos, as coisas vão correr muito melhor.

1 comentário:

Anabela Santos disse...

Obrigada pela partilha.
Vou passar aos colegas.
Bom fim de semana

Prof. Anabela
BLOGando na Escola