quarta-feira, 2 de novembro de 2016

DESFOLHAR E DEBULHAR, MEMÓRIAS A DESBRAVAR

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Todos o sabemos ou, pelo menos, intuímos: não há cultura de um povo que resista se este não souber cuidar e preservar as suas memórias.
Com base neste pressuposto, de dois em dois anos a nossa escola leva a efeito, com a participação ativa dos seus alunos, a realização de uma desfolhada. Mas, se hoje o dia foi de festa, eles tinham a noção de que tudo começou bem antes, pois, com a devida autorização do dono,  há tempos "ousaram invadir" o perímetro de um milheiral, onde colheram as maçarocas que deram cor a este evento.
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Com os necessários toldos devidamente a postos, fornecidos por gente prestável, os alunos começaram hoje a chegar à escola devidamente adereçados: com chapéus, lenços, saias rodadas, coletes... Enfim, o recinto da escola começou a engalanar-se a preceito.
No centro do recinto, sobre os toldos, estava o milho, à espera do sinal de partida para ser desfolhado. E, mal ele surgiu...
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Já se sabe, nestas coisas o entusiasmo anda sempre a tiracolo, à mão de semear. E, com o desfolhar das maçarocas, às tantas ele instalou-se com armas e bagagens, tornando-se rei e senhor do recinto. Os professores bem tentavam moderar gestos e vozes, mas o brilho dos olhos era incontrolável. Ainda bem.
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Após uma pausa para o lanche, em que foram servidas papas de carolo - uau, se estavam boas! - o desafio, agora, era debulhar. 
O Manuel, o novo assistente operacional, exemplificou, para todos, a melhor forma de tirar os grãos às maçarocas. Mas eles mal o ouviam, tal a vontade de deitar mãos à obra. E se, antes, o entusiasmo já era notório, a debulha veio acicatá-lo ainda mais.
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Grão a grão, enche a galinha o papo, costuma dizer-se, mas por aqui os grãos eram mais que muitos. E eles, apanhando-lhe o jeito, já não queriam parar. Os grãos quase tilintavam, a cair, os montinhos iam engrossando, o entusiasmo parecia não querer sossegar. E só com a chegada da hora do almoço é que, muito a custo, acederam a parar.
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Hoje, em plena festa da desfolhada, muito se aprendeu por aqui. Quando chegarem a casa e partilharem as emoções do dia, temos a certeza que se abrirão janelas para renovadas conversas em família, propícias ao desencadear de memórias ancestrais, verdadeiras tatuagens da alma.
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1 comentário:

João Félix disse...

Foi muito divertida a desfolhada e a debulhada